31/05/2013

OS CÓMICOS - "COMENTANDO OS COMENTADORES"



COMENTANDO OS COMENTADORES

            Desta vez, vou ter pouco trabalho a escrever este meu comentário semanal... Porquê? Porque, hoje, praticamente, não vou comentar coisíssima alguma… Vou usar apenas forças físicas muito moderadas, no dedilhar das teclas do computador – poupando as intelectuais, habitualmente utilizadas na busca de um bom tema, sua apresentação e comentário apropriado… É que, meus caros, comecei a suspeitar de que isto de comentar a vida quotidiana do nosso Portugalito é uma tarefa que talvez não me valha a pena continuar. Não que não existam temas para comentar! – mas porque já existem demasiados Comentadores… Ou seja, de repente saltou-me à vista e ao ouvido que há uma concorrência enorme – e, já se sabe, isto é como a sardinha na banca da peixeira: quando há muita, fica mais barata e as pessoas desconfiam que, estando a sardinha tão em conta, é porque talvez não esteja fresca, e vão à banca do lado, comprar um pargo!...
            Desculpem lá, meus ilustres colegas Comentadores, esta comparação assim a cheirar a peixe, mas foi o melhor que pude arranjar, perturbado que fiquei ao começar, nem sei bem porquê, a fazer a lista de todos aqueles e aquelas que vejo e ouço, com uma insistência e uma regularidade obcecantes, a dar as suas opiniões, a fazer as suas análises, a dar os seus bitaites sobre os mais (e os menos…) importantes temas da actualidade… Estive então entretido a fazer a Lista dos Comentadores – e fiquei espantado! Posta assim por escrito, a relação dos seus nomes (por ordem alfabética, por causa dos melindres), torna-se verdadeiramente impressionante! Ora façam o favor de conferir e, até, de rectificar e actualizar, porque são tantos que é natural ter-me escapado um ou outro … Aí vai então a lista dos mais vistos e ouvidos Comentadores, começando pelos Comentadores Políticos & Similares: 
            Adão e Silva, Alfredo Barroso, André Macedo, António Barreto, António Costa, António Costa Pinto, António José Teixeira, António Perez Metelo, Augusto Santos Silva, Bacelar Gouveia, Bagão Félix, Bernardino Soares, Camilo Lourenço, Carlos Zorrinho, Clara Ferreira Alves, Constança Cunha e Sá, Cristina Azevedo, Daniel Oliveira, David Dinis, Diogo Feio, Fernando Rosas, Graça Franco, Guilherme Silva, Helena Garrido, Helena Roseta, Henrique Monteiro, Joana Amaral Dias, João Duque, João Cravinho, João Marcelino, João Miguel Tavares, João Salgueiro, João Soares, João Vaz, Jorge Coelho, José Adelino Maltez, José Gomes Ferreira, José Luís Arnaut, José Manuel Fernandes, José Sócrates, José Vitorino, Lobo Xavier, Luís Delgado, Luís Fazenda, Luís Pedro Nunes, Manuela Ferreira Leite, Marcelo Rebelo de Sousa, Maria João Avilez, Marinho Pinto, Marques Mendes, Miguel Sousa Tavares, Moita Flores, Nicolau Santos, Nuno Artur Silva, Nuno Melo, Nuno Morais Sarmento, Nuno Sá, Pacheco Pereira, Paulo Rangel, Pedro Guerreiro, Pedro Marques Lopes, Pedro Mexia, Pedro Santana Lopes, Pires de Lima, Ricardo Araújo Pereira, Rui Rangel, Sarsfield Cabral, Tiago Calado Guerreiro… Se não me enganei nas contas, e se não deixei escapar algum, são sessemta e oito Comentadores que nos beneficiam regularmente com as suas opiniões… Ah, mas faltam os outros, os especialistas no importante sector do Desporto (que é como quem diz, do Futebol, porque, embora conste que existem, cá no nosso Portugalito, outras modalidades desportivas, estas mantêm-se discretamente na sombra, para não nos distraírem das repetidíssimas e diárias declarações dos Senhores Treinadores). Temos então – igualmente por ordem alfabética, já que, segundo consta, os melindres são, aqui, ainda maiores – os Comentadores Desportivos, dos quais cacei os seguintes nomes:
            António Pedro Vasconcelos, Cláudia Lopes, Dias Ferreira, Eduardo Barroso, Fernando Correia, Fernando Seara, Guilherme Aguiar, João Gobern, José Nunes, Manuel Queiroz, Manuel Serrão. Miguel Guedes, Nuno Madureira, Pedro Barbosa, Pedro Ribeiro, Rui Gomes da Silva, Rui Oliveira e Costa, Rui Santos, Tomás Morais… São mais dezanove, número que, somado ao anterior, dá um total de oitenta e sete Comentadores a oferecerem-nos, generosamente, as suas opiniões (bem… generosamente é um modo de falar, ninguém acredita que não haja por ali uns cachets, que isto de opinar de borla não enche barriga)…    Ora, perante esta realidade, que é como quem diz, esta quantidade de gente que comenta tudo o que há para comentar, o que é que eu ando aqui a fazer? A comentar os Comentadores? É redundante – e o meu amigo Piçarra não me paga cachet nenhum para isso – aliás, nem para isso nem para nada, e é só por essa razão, pela Amizade, que este já é o meu Comentário número 381, desde que comecei a comentar nas páginas do Diário do Sul… Valerá a pena fazer o comentário 382?...

15/05/2013

"OS CÓMICOS" - EXAMES E DITADURA





Volto a publicar, com alguma irregularidade, as crónicas que continuo a escrever, semanalmente, para o "Diário do Sul".  Não me comprometo com datas fixas. Os textos irão aparecendo, de vez em quando, sempre que eu ache que têm alguma piada. Enfim, o blog e eu continuamos livres... Se os  seguidores tiverem paciência para me ler,  fico grato. Se não tiverem, não levo a mal...


EXAMES E DITADURA
Felizmente para mim, todas as semanas aparecem coisinhas cómicas, na vida corrente cá do nosso Portugalito, que dão assunto para comentário. O problema, às vezes, é escolher o mais cómico dos cómicos, porque, feita essa escolha, o comentário vem depois, naturalmente. Mas, na última semana, não tive qualquer dúvida ou hesitação: a coisa mais cómica a que o país assistiu, foi o nervosismo por causa do exame da quarta classe!... Nervosismo de quem? Dos putos que iam fazer a prova? Nem pensar! Esses eram os mais calmos, os mais tranquilos, encarando a situação com toda a naturalidade, sem angústias e sem stresse… Quem mostrava mais stresse e mais angústias eram os papás e as mamãs dos meninos! E então, ouviram-se reacções e declarações, nas rádios, e mostraram-nos cenas tão parvas, nas televisões, que foi mesmo um fartar de rir! A mais cómica de todas foi expressa nas palavras de uma mãe irritada, que refilava ao microfone: - Agora temos de aturar isto! Parace impossível, obrigarem as crianças a fazer exame. É uma verdadeira ditadura!
Não pude deixar de recordar os tempos de antigamente. Por exemplo, quando eu próprio fiz o meu exame da quarta classe. Nesse tempo, ainda não tinha surgido esta febre de trocar os nomes simples das coisas simples por nomes mais complicados. O exame era da quarta classe, não era do quarto ano, como o baptizaram depois… Mas, enfim, não é isso que mais interessa. As condições em que os miúdos iam para a prova, nesses tempos, essas sim, é que eram traumatizantes e stressantes – embora tais palavrões não se usassem então, e o que a malta tinha era, simplesmente, umas valentes dores-de-barriga! Como o país estava infestado de analfabetos, fazer a quarta classe era acontecimento suficientemente importante para ser tratado com o maior respeito e grande cerimónia. As famílias, orgulhosas com a distinção que representava passarem a ter um menino com tão altos estudos, ataviava-o com o que havia de melhor, e nenhum examinando ia para a escola, nesse dia, sem um fatinho novo (ou, pelo menos, virado do avesso, a fingir que era a estrear), calções muito engomadinhos, todo penteado, com brilhantina na trunfa, e uns sapatos de verniz que amolgavam os pés do desgraçado durante o dia inteiro – e que, isso sim, esse cerimonial todo, atrapalhava os candidatos ao desejado diploma, aquele certificado que depois se pendurava orgulhosamente na sala de jantar, para comprovar, perante a vizinhança, que estava ali uma inteligência superior...
Aí sim, havia razões para todos estarem nervosos. Ao passo que, na semana passada, essas razões eram todas do mais pífio que se possa imaginar. Ai, que o menino não está psicologicamente preparado para fazer um exame, ainda tão novinho! Ai, que ele vai fazer a prova numa sala onde nunca esteve antes e é muito capaz de ficar aterrorizado! Ai, que ele tem de viajar num autocarro, durante vinte minutos, para se deslocar para um sítio que não conhece, e isso pode traumatizá-lo para sempre!... Ouviram-se os argumentos mais idiotas contra a realização dos exames: que eram prematuros, que as criancinhas não estavam desenvolvidas suficientemente para aguentar uma prova daquelas, que o sistema anterior, em que toda a gente passava a tudo, sem exames nem chatices, era muito mais benéfico para aqueles pobres cérebros desabituados de tarefas pensantes… Ora bem, é por estas e por outras que temos aí umas gerações sucessivas de gente que ficou isenta de qualquer avaliação e, por isso, não sabe alinhavar duas frases seguidas nem fazer uma simples multiplicação de cabeça. Muitos dos paizinhos e das mãezinhas que sofreram por transposição, esta semana, as angústias dos seus meninos, só tiveram esses problemas porque, eles próprios, quando jovens, escaparam do exame da quarta classe… Pois teria sido bem melhor que o tivessem feito – mesmo com a chatice do fatinho a estrear e dos sapatinhos de verniz a apertar-lhes os mimosos pezinhos… Não teríamos agora tantos analfabetos a refilar contra a vida que têm, contra tudo e contra todos, e até a dizer que isto agora parece uma ditadura – sem repararem, idiotas que são, que numa ditadura não poderiam dizer os disparates que dizem…