20/08/2012

O PORTUGUÊS PITORESCO - Cap. 12 - "ONDE PONHO A VÍRGULA?"

12. ONDE PONHO A VÍRGULA?
  
Um dos casos mais complicados, entre todos os que afligem aqueles que escrevem em Português, é o problema das vírgulas. Para muita gente, é difícil saber, com um mínimo de certeza, onde colocá-las.

Uma vírgula serve, em princípio, para assinalar uma pausa ligeira num texto, não quebrando a ligação com a parte desse mesmo texto que se segue. Dito desta maneira, a coisa parece simples, não é verdade?... Pode ser que pareça simples, mas acaba por ser complicada – porque, por razões estranhas à compreensão mais comum, a vírgula acaba, muitas vezes, por ser colocada no local menos apropriado, no meio de uma frase com predicado e sujeito, quebrando o ritmo desta e separando partes que devem ser inseparáveis – isto é, separando, precisamente, o predicado do sujeito.

Vejamos o caso de uma frase simples: "O homem correu para apanhar o comboio." O sujeito é "o homem", o predicado é "correu". Entre os dois não deve haver vírgula. No entanto, não é invulgar encontrar-se, numa frase como esta, uma vírgula intrusa, colocada assim: "O homem, correu para apanhar o comboio". A vírgula está, evidentemente, no local onde não devia estar.

Consideremos agora este último exemplo: "A vírgula está, evidentemente, no local onde não devia estar." Este exemplo apresenta duas vírgulas. Estarão correctamente colocadas? Sim, estão, porque se destinam a realçar, separando-o, o advérbio "evidentemente". Mas não separa (porque não podia separar) o sujeito "A frase" do predicado "está".

Além desse erro de colocação, a vírgula pode também pecar por excesso. Há quem escreva com tal preocupação de realçar os diversos elementos que constituem uma frase, que os separa com um excesso de vírgulas. Vejamos um exemplo:

"Ele, que tinha, naturalmente, o desejo, absolutamente compreensível, de, em todas as circunstâncias, mostrar, a toda a gente, que era, entre todos, o mais competente, sendo essa uma característica, herdada, quem sabe, de seu pai, acabava por ser, por isso mesmo, incómodo para quem, enfadado, o tinha de, contrariadamente, suportar."

Repare-se no número de vírgulas existentes entre "Ele", que é o sujeito da primeira oração, e o respectivo predicado "acabava": nada menos que dezasseis! Estão todas correctamente colocadas – mas poderia ter-se simplificado um pouco, em benefício da elegância do estilo, eliminando algumas das vírgulas e escrevendo a frase desta forma:

"Ele, que tinha naturalmente o desejo absolutamente compreensível de em todas as circunstâncias mostrar a toda a gente que era entre todos o mais competente, sendo essa uma característica herdada, quem sabe, de seu pai, acabava..." etc. As vírgulas foram reduzidas a quatro. A frase pode considerar-se correcta. A frase anterior, com as suas dezasseis vírgulas, está pontuada de forma mais correcta, só que se torna mais cansativa e incómoda de ler.

A regra principal é, no fim de contas, utilizar a vírgula onde ela seja necessária, para separar ou destacar elementos da frase – mas nunca para separar o inseparável sujeito do seu indispensável predicado.



A SEGUIR - Capítulo 13 -  CURIOSIDADES

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