04/02/2012

O EROTISMO A NU - De "BOCAGE" a "CAMISA"

BOCAGE – Um grande poeta da língua portuguesa, Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805), do qual, a maioria das pessoas, apenas retém e recorda – infelizmente – as anedotas mais ou menos pornográficas, e as suas poesias eróticas e satíricas. Estas, porém, são realmente excelentes, tanto do ponto de vista poético como no seu aspecto erótico, e vale a pena citar, como exemplo, um dos seus sonetos – talvez um dos mais “suaves”:

           
Amar dentro do peito uma donzela,
Jurar-lhe pelos céus a fé mais pura;
Falar-lhe, conseguindo, alta ventura,
Depois da meia-noite na janela,

Fazê-la vir abaixo, e com cautela,
Sentir abrir a porta, que murmura;
Entrar pé ante pé, e com ternura
Apertá-la nos braços, casta e bela;

Beijar-lhe os vergonhosos, lindos olhos,
E a boca, com prazer o mais jocundo,
Apalpar-lhe de neve os dois pimpolhos;

Vê-la rendida por fim a Amor fecundo;
Ditoso levantar-lhe os brancos folhos,
É este o maior gosto que há no mundo!

Das “Cartas de Olinda e Alzira”, em que uma noiva conta, à amiga, excitantes pormenores da sua noite de núpcias, eis um pequeno extracto:

Eram brasas, que as carnes me queimavam,
Seus dedos, os seus beiços, sua língua!
Sim; sua língua, bem como um corisco,
Abriu rápida entrada, onde engolfadas
Todas as sensações lutavam juntas;
Pela primeira vez dentro em mim mesma
Senti gerar-se súbita mudança,
Com que de envolta mil deleites vinham.
Comunicou-me sua raiva Alcino,
E na lasciva acção, que prosseguia,
Tal interesse me fez tomar, que eu própria
A seus intentos me prestei de todo.
..........
Seu corpo era gentil: válidos membros
Cobria fina pele; era robusto,
E delicado a um tempo; esbelto, airoso,
Medíocre estatura, olhos rasgados,
Mimosas faces, rubicundos beiços,
Cheio de carnes, sem que fosse obeso,
Igual nas proporções... Eis um mancebo
Digno de a Marte, e a Adónis, antepor-se,
Não tendo de um a rude valentia,
Nem tendo de outro a feminil brandura.
Então lancei curiosas ávidas vistas
Sobre ignotas feições: fiquei pasmada
Ao ver do sexo as distintivas formas
Dobrando a extensão: dobrou meu susto!
           
BOCACCIO – Poeta, escritor e humanista italiano, Giovanni Bocaccio (1313-1375), escreveu numerosas obras históricas, mitológicas e poéticas, onde revelou as suas tendências humanistas e a sua intenção de fazer a descrição científica dos factos da natureza e da vida, tal como eram conhecidos na sua época. Além de uma obra, quase enciclopédica, intitulada “Das montanhas, dos bosques, das fontes, dos lagos, dos rios, dos charcos ou dos pântanos e dos nomes dos mares, dedicou-se a outros assuntos, igualmente eruditos, como a “Genealogia dos Deuses” ou “As desventuras das nobres damas e dos fidalgos, e a outros temas mais vivos, nos quais relatou os seus amores. Mas o seu livro mais importante foi talvez o “Decameron, obra considerada licenciosa, que o tornaria famoso. Trata-se de um longo relato em que, à semelhança das “Mil e uma noites, se conta como sete jovens mulheres e três homens, para se distraírem da terrível peste que assolava Florença, deviam inventar histórias sujeitas e um tema pré-determinado. As cem histórias assim reunidas transportam o leitor para as situações mais picantes e licenciosas e para os refinamentos do amor cortês da época. Bocaccio revela-se uma testemunha atenta da convergência, que então parecia possível, entre dois mundos, o cristão e o humanista, os quais, pouco depois, se enfrentariam e se afastariam um do outro, mantendo-se em oposição durante séculos, em que o “Decameron esteve, evidentemente, entre as obras proibidas, que apenas se liam clandestinamente.

BORDEL – Também chamado lupanar, ou "prostíbulo", "casa de tolerância", "alcouce", "serralho" ou, em linguagem mais crua, que dantes não se aceitava mas se foi vulgarizando, "casa de putas". É um local onde, a troco de uma quantia pré-determinada, se faz comércio sexual com uma prostituta (ou um prostituto, pois, embora durante séculos essas casas tenham sido habitadas por mulheres e visitadas por homens – a evolução dos costumes levou a que passassem a existir, de forma similar, embora mais raras, casas onde homens e rapazes esperam a visita de mulheres, ou de outros homens).
            Os bordéis podem apresentar diferenças enormes nos seus aspectos, que vão dos mais modestos até aos mais luxuosos, dependendo do nível financeiro e social dos seus frequentadores. Os mais miseráveis funcionam em casas degradadas, sem quaisquer condições de conforto ou de higiene, ao passo que outros são autênticos palácios, onde a clientela é tratada com todos os requintes – desde que, evidentemente, possa pagá-los. Mas, rico ou pobre, um bordel serve sempre para o mesmo: para aliviar, os que lá vão, de uma insuportável tensão...


C


CABELOS – O poder erótico da cabeleira feminina é uma das razões para que algumas religiões imponham a obrigação de a cobrir com um véu. Daí, por exemplo, o ritual do corte dos cabelos das noviças. Em certas civilizações antigas (e, mesmo, em países e épocas mais recentes), às mulheres adúlteras era imposto o castigo de lhes raparem os cabelos. Assim, no final da 2ª Guerra Mundial (1939-1945), algumas mulheres francesas, que tinham dormido com os ocupantes alemães, sofreram a humilhação pública de ficarem carecas, como punição pela sua traição. Na história lendária de Sansão e Dalila, a potência masculina parecia estar concentrada na farta cabeleira do herói; assim, quando Dalila o apanhou a dormir e lhe cortou a trunfa, ele tornou-se num desprezível fracalhote. No decorrer dos séculos, tanto as cabeleiras masculinas como as femininas sofreram os altos e baixos (melhor dizendo, “os curtos e compridos”) da Moda, mas sempre se conservaram como elementos eróticos de grande significado. O fascínio pelos cabelos louros, ou pelos cabelos ruivos, é um dos melhores exemplos – mas todas as outras cores têm os seus admiradores. E as longas horas que as mulheres (e os homens) passam nos cabeleireiros são a prova da importância que os cabelos merecem a toda a gente.

CALL-GIRL – É o nome, inventado pelos Americanos, para designar uma prostituta que faz os primeiros contactos, com os seus clientes, pelo telefone. Os Brasileiros chamam-lhe “moça de chamado”. O sistema é prático: ela divulga o seu número de telefone em locais estratégicos; os clientes telefonam, combinam os termos do encontro, e assim se concretiza o assunto.
Não confundir com as moças que anunciam igualmente os seus telefones, mas para chamadas eróticas, sem que haja encontro físico: a diferença é que, enquanto a call-girl recebe dinheiro pelos seus encontros sexuais concretizados, estas outras são pagas, apenas, para entusiasmar, com as suas conversas ousadas e os seus gemidos lúbricos, os homens que ligam para elas – e quem ganha mais com o negócio é o detentor da linha telefónica.

CAMA – Um dos sítios mais frequentados do mundo, quando se trata de assuntos relacionados com o sexo. Embora sejam admitidas variações sem fim, no que respeita aos locais onde é possível praticar uma relação sexual (sala, cozinha, casa-de-banho, automóvel, elevador, sofá de sala de espera, dentro do roupeiro, etc.), ainda é na cama que, tradicionalmente, tal actividade se pratica mais comodamente. Para tal, ela deve ser confortável, suficientemente espaçosa, e não produzir estalidos ou rangidos indiscretos. Tão importante como um bom colchão, é a existência de algumas almofadas, para serem colocadas em sítios estratégicos, durante os variados actos amorosos.
            Convém recordar que a cama, para além destas funções, também pode servir para dormir.

CAMISA – Existem várias espécies, mas vão citar-se, apenas, duas. Começando pela camisa de dormir, esta é uma peça de vestuário que, em tempos recuados, era de uso praticamente obrigatório, na cama, tanto para homens como para mulheres, muitas vezes completada com gorro ou touca, tapa-olhos, meias e outros acessórios. Depois, os homens foram-se deixando de tal acessório, que ficou reservado, quase exclusivamente, para as mulheres – tudo isto antes de se tornar quase universal o pijama, que veio destronar as antigas camisas. É preciso recordar que, embora haja, actualmente, muita gente que dorme nua (pelo menos no Verão), e é em pêlo que faz sexo, isso era impensável há décadas atrás: a casta camisa de dormir era obrigatória e nunca era removida, nem mesmo para fazer amor: era apenas levantada. 
            A outra é a camisa-de-Vénus, também apelidada, carinhosamente, de camisinha, ou, mais tecnicamente, de preservativo, ou "condom". A frequência do seu uso está quase na ordem inversa da outra: ou seja, a camisa de dormir era, antigamente, um hábito, enquanto a camisinha não tinha grande popularidade. E foi em épocas relativamente recentes da História que as situações se inverteram, e o uso desta última se tornou normal – mas não, evidentemente, para proteger as pessoas do frio...

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