01/02/2012

O EROTISMO A NU - De "AUPARISSHTAKA" a "BOCA"


AUPARISSHTAKA – Palavra indiana, designando, no Kâma-Sûtra, o sexo oral recíproco, tal como está representado nos baixos-relevos do templo de Konarak (séculos XII e XIII). No mesmo Kâma-Sûtra é igualmente designado por “sessenta-e-nove”, termo pelo qual é mais vulgarmente conhecida, no Ocidente, esta variante sexual. É tão expressiva esta última designação, que nem necessita de qualquer explicação gráfica, para se perceber em que consiste.

AUTO-EROTISMO – Resolução sexual espontânea, na ausência de qualquer estímulo externo. Isto é, a pessoa obtém satisfação a partir, apenas, do seu próprio corpo. A sua mais vulgar expressão é o orgasmo durante o sono. A masturbação pode ser outro exemplo, mas o auto-erotismo tem aspectos mais delicados, que podem ir até ao narcisismo, ou seja, à satisfação da líbido do indivíduo através da paixão que tem por si mesmo. 

AUTO-SATISFAÇÃO – Pode quase confundir-se com o auto-erotismo, apenas se distinguindo deste pelo facto de se referir a um tipo de satisfação geralmente mais espiritual do que física.

B

BACANAL – Festa em honra de Baco, o deus romano do Vinho. À semelhança das festas dionisíacas gregas, as bacanais, ou bacanálias, eram festas em que reinava a devassidão. Era assim nos tempos antigos, e mantiveram-se, por isso, tais designações, que continuam a usar-se, para as grandes orgias actuais, onde o vinho se mistura com o sexo, e em que podem participar apenas duas pessoas ou grupos mais numerosos, com grande liberdade de atitudes e sem qualquer restrição moral. As antigas sacerdotisas do culto de Baco chamavam-se bacantes, nome que passou a aplicar-se às mulheres licenciosas e depravadas.
Um termo mais moderno, oriundo do Brasil, é “bacano”, que designa um homem com certos atributos positivos – portanto, em condições de entrar em qualquer bacanal.

BANHO – Acção que consiste em mergulhar o corpo em água – ou, mais simplesmente, em deixar correr sobre ele a água do duche. Como as pessoas praticam tal operação, geralmente, nuas, assim se cria um belo e agradável ambiente, propício a brincadeiras eróticas, que elas e eles podem realizar a solo, ou bem acompanhados. A água, ao limpar os corpos, torna-os mais apetecíveis para tais actividades, que podem praticar-se antes, depois, ou durante o banho. Este serviu de pretexto – desde a Roma Antiga e a Idade Média, em épocas em que toda a gente se banhava, ou em que se praticava o banho em comum – para conhecidas representações artísticas, como os inúmeros quadros tendo por tema "O Banho de Diana", "Susana no Banho", "O Banho Turco", etc. Mesmo nos tempos modernos, em que as casas-de-banho já dispõem de equipamentos muito sofisticados, que incluem o “jacuzzi”, as massagens, e outros – nada mais agradável do que ter alguém que esfregue amorosamente as costas da pessoa que se banha...

BARBA – Conjunto de pêlos que nascem no queixo e nas faces dos homens (e, também, de algumas mulheres, embora relativamente raras). Símbolo ancestral da masculinidade (dizia-se que um homem só era verdadeiramente homem quando tinha “barba na cara”), a barba pode assumir diversos aspectos: "barba completa", "pêra-e-bigode", "cavanhaque" ou "barbicha", "mosca", e outras variantes, algumas delas bastante trabalhosas de manter. Quase todos os rapazes gostam de deixar crescer os primeiros pêlos das suas barbas nascentes, que mais não seja, para tapar as borbulhas próprias da adolescência. Em adultos, descobrem que é mais prático raparem totalmente a barba, todas as manhãs – e, mesmo assim, essa tarefa acaba por se tornar rotineira e aborrecida; daí que muitos homens mais velhos optem pela comodidade de a deixar crescer, barbeando-se apenas de vez em quando. Um homem com barba desperta, por vezes, sensações estimulantes em algumas mulheres, que gostam das cócegas que ela lhes provoca, quando o seu parceiro a faz roçar delicadamente pelos sítios mais sensíveis do seu corpo.
Algumas expressões relacionadas com a barba demonstram a sua importância. Assim, por exemplo, diz-se que um amante deve “pôr as barbas de molho”, significando que deve estar atento para que não lhe roubem a pessoa amada, precisamente, “nas suas barbas”. Uma figura mítica do mundo erótico é o Barba-Azul, designação aplicada a um homem que ficou viúvo muitas vezes, ou que é dado a conquistas e tem muitas mulheres.

BEIJO – Também chamado “ósculo”, do Latim “osculum”, o beijo designa o contacto dos lábios com uma parte do corpo do interlocutor, mais habitualmente com a face ou a boca. Discutir-se-á eternamente se, na vida social, devem cumprimentar-se as outras pessoas com um, com dois ou com três beijos. E se os beijos devem ser reais ou apenas sugeridos, isto é, dados no ar. Beijar a mão de uma mulher, ou o anel de um cardeal, tem as suas regras próprias, que não vamos abordar aqui. O beijo que nos interessa analisar é o que se dá ao ser amado, tocando com os lábios na sua face, ou na sua boca. Dito desta forma, parece coisa simples – e, no entanto, trata-se de um dos actos mais complexos, no jogo erótico entre dois (ou mais) parceiros. O beijo amoroso clássico mais simples consiste, apenas, em encostar os lábios aos lábios da outra pessoa. Mas poucos se contentam com algo tão primário como esse simples contacto, e é habitual acrescentar-se-lhe a introdução da língua, acompanhada de alguns movimentos rotativos, envolvendo chupões mais ou menos violentos. A isto se chamou em tempos o beijo francês, agora, porém, universalizado. Mas, é evidente que o beijo nos lábios não é o único praticado entre amantes: na verdade, pode beijar-se qualquer parte do corpo amado, mesmo a mais recôndita e mais escondida. Aliás, sendo o beijo um dos principais acepipes, antes do “prato principal”, ele merece ser saboreado com toda a proficiência, recomendando-se que seja ensaiado e praticado regularmente, a fim de não se perder o treino. 

BESTIALIDADE – Em calão, ser bestial equivale, mais ou menos, a ser “formidável”. Mas a Bestialidade é, afinal, o comportamento que assemelha o ser humano a um animal – a uma besta. Ou, em sentido mais concreto, em praticar qualquer tipo de união sexual com um animal. Talvez seja etimologicamente mais rigoroso utilizar a palavra Bestialismo – mas, para o que interessa, neste caso, trata-se de uniões não naturais, sugeridas, desde tempos muito antigos, pelas lendas gregas e romanas que falam de deuses transformados em animais (Júpiter metamorfoseado em Touro para possuir Europa, e em cisne, para seduzir Leda, mulher do rei de Esparta). Ou causadas por desvios psicológicos. Ou, mais prosaicamente, pela necessidade decorrente de condições de vida ou de isolamento, como nos casos do pastor que se junta à sua cabrinha preferida, ou do militar de cavalaria que ama a sua égua. No cinema, embora de forma não tão explícita, o amor entre uma jovem e um gorila (“King-Kong”) era sugerido, embora não concretizado, por razões óbvias.

BIDÉ – Bacia oblonga, onde as pessoas se sentam para lavar as suas partes baixas. Em tempos antigos, até princípios do século XX, tais objectos eram cuidadosamente resguardados de olhares indiscretos, por serem considerados um tanto ou quanto obscenos. Isto porque o seu uso era conotado com as chamadas “mulheres de vida fácil”, isto é, as prostitutas, as quais, por razões evidentes, os utilizavam mais frequentemente do que as “senhoras sérias” – até porque estas, nesse tempo, pouco se lavavam, salvo raras excepções. Actualmente, o bidé faz parte do mobiliário sanitário de qualquer casa-de-banho, ainda que, em algumas delas, por razões de falta de espaço, não seja instalado, já que as pessoas preferem um duche geral em vez de lavarem apenas dez centímetros quadrados do seu corpo. Os bidés mais sofisticados apresentam, em vez das torneiras normais, para águas quentes e frias, um pequeno repuxo que ajuda às lavagens, e que algumas pessoas com imaginação utilizam para fins eróticos.

BIGAMIA – Situação ilegal em que um indivíduo casado contrai novo casamento sem ter dissolvido o anterior. Assim, um homem já casado volta a matrimoniar-se com outra mulher e passa a ter uma vida dupla, o que não deixa de oferecer o picante de algumas vantagens evidentes – embora possa trazer, também, vários inconvenientes: o perigo de ser descoberto e condenado (a bigamia é considerada um crime); as despesas dos lares, que passam a ser em duplicado; e, eventualmente, duas sogras em vez de uma...
 
BISSEXUAL – Hermafrodita. Aquele que reúne em si características dos dois sexos. Aquele que sente atracção, tanto pelo sexo masculino como pelo sexo feminino. Freud acreditava que a presença de hormonas, femininas ou masculinas, definia a tendência sexual dominante do indivíduo. A endocrinologia não confirmou esta teoria, pois provou que, por exemplo, o excesso de hormonas do mesmo sexo provoca, por vezes, paradoxalmente, a predominância do sexo oposto. De qualquer forma, há que reconhecer que um bissexual tem o dobro das possibilidades de se divertir sexualmente, em relação a um monossexual.
            É difícil, por vezes, distinguir um bissexual de um homossexual.

BOCA – Abertura inicial do tubo digestivo. Cavidade, situada na cabeça dos vertebrados, delimitada externamente pelos lábios e internamente pela faringe. Estas designações podem estar rigorosamente exactas, do ponto de vista anatómico, mas falta-lhes, evidentemente, o sentido poético e, sobretudo, o factor erótico que fazem da boca um dos locais mais fascinantes do corpo humano. Para além das suas funções ligadas à fisiologia, ela tem um papel importantíssimo, logo no início da atracção sexual. Muitas pessoas se apaixonam por outras, só porque estas têm uma boca sensual, com lábios bem desenhados. Há quem goste delas pequenas e quem prefira bocas grandes, com lábios grossos. Um beijo na boca é, frequentemente, o primeiro acto de amor físico entre um casal. A este poderão seguir-se outros actos mais elaborados, como o cunnilinctus, popularmente chamado minete, e o fellatio ou felação, também conhecido por broche – em que a boca, e particularmente a língua, têm um papel fundamental, no sentido de dar prazer aos participantes nessas interessantes variações do sexo oral. De notar que estas foram consideradas, durante certas épocas, aberrações e desvios; mas, na verdade, tais jogos amorosos sempre se praticaram, desde tempos imemoriais, como substitutos, ou como preliminares, do mais tradicional coito, sendo que, até mesmo este, os puritanos só relutantemente o aceitavam como um facto natural da vida humana. 

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