28/01/2012

O EROTISMO A NU - De "ALGOLAGNIA" a "ASSEXUADO"


ALGOLAGNIA – É uma perversão que consiste em obter prazer ao infligir dor a outra pessoa, ou a si mesmo. A algolagnia activa é conhecida por sadismo. A algolagnia passiva chama-se masoquismo (v. estes dois temas).

ALIANÇA – Símbolo de uma união, de uma ligação – particularmente o casamento, ou, antes dele, o noivado, nas sociedades onde tais convenções continuam a ser respeitadas. As alianças são usadas nas cerimónias matrimoniais dos mais variados ritos e religiões, simbolizando o elo que se estabelece entre o noivo e a noiva (ou entre os dois noivos, ou entre as duas noivas, nos casos das ligações homossexuais). Em tempos antigos, as alianças, normalmente de ouro, ficavam enfiadas nos respectivos dedos até ao fim dos tempos – e ainda eram acrescentadas com outras, de prata, quando se atingiam certos aniversários. Mas, evidentemente, eram cuidadosamente retiradas, quando surgia a oportunidade de praticar um discreto adultério...

AMANTE – Aquele ou aquela que ama, que tem amor por alguém ou por alguma coisa. Em sentido mais restrito, é aquele ou aquela que tem uma relação amorosa não oficial com outra pessoa, não sancionada pelo casamento. Mas, afinal, amante pode ser, simplesmente, alguém que tem amor por outro alguém, ou por alguma coisa – e não, necessariamente, uma pessoa que ande a desviar dos seus deveres conjugais o cônjuge de outra pessoa, embora esta seja a definição mais habitualmente aceite...

AMAZONA – Dá-se este nome a uma mulher destemida, aguerrida, de índole varonil e aspecto masculino. Por este nome eram designadas, segundo as lendas de origem grega, as guerreiras que, na Antiguidade, teriam vivido na Trácia, na Ásia Menor. Montavam cavalos que elas próprias domavam e, para tornar mais fácil o uso do arco e das setas, queimavam a mama direita – o que era, sem dúvida, um grande desperdício. Enfim, nem tanto, pois as amazonas não admitiam nenhum homem entre elas... Para preservar a raça, apenas visitavam, em rápidas excursões sexuais, em cada Primavera, os homens que viviam nas montanhas vizinhas. Se nasciam filhos dessas breves uniões, eram devolvidos aos pais; ao passo que as filhas se juntavam a elas e eram treinadas como guerreiras. As suas armas favoritas eram o machado de dois gumes e o dardo. Os seus escudos eram pequenos e redondos, feitos de madeira ou de vime entrançado, recobertos de couro. São citadas por poetas gregos, como Virgílio, que fala dos seus "escudos em forma de lua". As lendas das Amazonas, que revelam um certo receio do homem grego em relação à mulher, ou seja, um aspecto da sua componente homossexual, deram lugar a numerosas narrativas, em que se misturam as histórias reais com a fantasia. As Amazonas teriam tido várias rainhas, todas elas proclamando-se filhas de Marte, a fim de sublinharem a sua autoridade guerreira. Entre as mais célebres, podem citar-se Antíope, que atacou Teseu e foi por ele vencida na ponte de Thermodon; Penthesileia, que, no fim da guerra de Tróia, veio em socorro de Priam e foi morta por Aquiles; Thalestris, que teria enfrentado Alexandre; etc. Mas alguns autores afirmam que as fabulosas Amazonas não seriam mais que as antigas sacerdotisas da deusa Cybele, que, em desenhos antigos da Lídia, aparecem em danças em que empunham o machado e o escudo. Ateneia conta que os Lídios teriam sido o primeiro povo a descobrir a forma de tornar as mulheres estéreis, através de uma operação cirúrgica, passando desde então a usar os serviços de eunucos femininos. Tal operação provocaria o aparecimento de características masculinas. As Amazonas com barbas e bigodes seriam então as primeiras sacerdotisas da sua antiga Deusa Mãe.
            Uma lenda paralela relaciona-se com os primeiros exploradores do Brasil, que disseram ter encontrado, no Maranhão, mulheres guerreiras quase nuas, descritas como muito brancas e muito grandes, musculosas, com longos cabelos, e que, no dia da sua festa anual, vinham banhar-se ao luar. Nesse único dia, cada uma unia-se a um homem e, se tivesse uma filha, oferecia ao seu amante ocasional uma pedra preciosa colhida no fundo do rio. O grande rio Amazonas deveria então o seu nome a estas mulheres guerreiras, que espantaram esses exploradores de um mundo, até então, desconhecido. Nesta lenda, como na lenda grega, a homossexualidade feminina das Amazonas, tal como a homossexualidade masculina dos heróis vencedores, representam os pólos mais sensíveis da eterna guerra dos sexos.
Actualmente, uma amazona é, simplesmente, uma mulher que monta a cavalo. E que pode manter (felizmente!) as duas mamas intactas.

AMBIVALÊNCIA – Característica de um indivíduo que apresenta duas atitudes afectivas opostas, simultâneas e indissociáveis (amor-ódio, desejo-receio). Em certos casos, será um sintoma de esquizofrenia. Pode significar ambiguidade, ou incerteza. No aspecto sexual, designa a existência simultânea de duas tendências, no mesmo indivíduo, em relação ao sexo masculino e ao sexo feminino (v. bissexualidade).

AMIGAR – No sentido mais puro, significa “passar a ser amigo”. Num sentido mais brejeiro e mais comum, significa “tornar-se amante”. Há ainda uma variante popular, muito curiosa e muito expressiva, que é “juntar os trapinhos”. Em qualquer dos casos, significa juntar-se a outra pessoa, seja em sentido figurado, mantendo com essa pessoa relações de amizade, seja em sentido físico, habitando, comendo, dormindo e fazendo sexo com ela.

AMOR – Aparentemente, é a palavra mais fácil de definir, entre todas as que constituem este Dicionário. Mas só aparentemente. Vejamos, para começar, uma definição clássica, retirada de um Dicionário diferente deste, isto é, um Dicionário normal. “Amor é uma forma de interacção psicológica ou psicobiológica entre pessoas, seja por afinidade imanente, seja por formalidade social (cf. “Dicionário Houaiss”). Os Românticos acharão esta definição horrível, seca, quase burocrática. Para eles e para muitos outros, o Amor é um sentimento sublime, difícil de definir em termos simples, mas que implica uma atracção, simultaneamente espiritual e física, por outra pessoa. “Fazer amor já tem um sentido mais grosseiro, porque significa, muito prosaicamente, “fazer sexo”; ou seja, é uma definição que se limita à componente física do Amor, ao acto sexual. Entende-se que o Amor tem vários graus, partindo da “afeição”, passando depois pela sua manifestação mais primária, que é o “amor carnal”, sem interferência de sentimentos, até ao “amor ao próximo”, sob a forma de Compaixão, e ao Amor de grau supremo, que será a Caridade. “Amor à primeira vista” é aquele que se manifesta por um baque súbito e violento, perante uma pessoa por quem se fica estupidamente apaixonado, de repente. Por contraposição ao “amor carnal”, existe o “amor platónico”, que é muito puro e não inclui pensamentos lúbricos, nem cenas que envolvam camas, beijos, apalpões e outros pormenores atrevidos. “Amor socrático” é um Amor com características homossexuais, já que Sócrates (o filósofo) gostava muito de ter rapazinhos por perto, e não apenas para lhes incutir ideias filosóficas. “Amor clubista” é aquele que faz sofrer tragicamente as pessoas, quando o seu clube de futebol está a perder por três a zero a um minuto do fim do jogo. “Amor próprio” significa orgulho, sentimento de dignidade. “Amor à Pátria”, ou Patriotismo, é um sentimento próprio daqueles que podem não amar mais nada, mas são capazes de morrer pela terra onde nasceram. “Amor ao trabalho” é um tipo de amor habitualmente ridicularizado pela imensa maioria dos que amam, preferencialmente, o Descanso. “Amor à arte” é a situação em que se trabalha sem receber a justa paga, fenómeno muito comum, também chamado “parvoíce”. “Amor perfeito” é algo que não existe na vida afectiva das pessoas, mas, apenas, na vida botânica, sob a forma de uma planta híbrida com flores vistosas, de pétalas arredondadas e com várias cores. “Por amor de Deus!” é uma exclamação que não significa, necessariamente, amor pelo ser supremo, que muitos acreditam dominar e governar os seus amores – mas antes um particular desprezo pelas capacidades intelectuais do interlocutor. “Cartas de amor” são, por definição, e como escreveu Fernando Pessoa, cartas ridículas, porque nelas se escrevem frases de que, quase sempre, nos arrependemos, mais tarde.

ANAL – O que se refere ao ânus – ou, para sermos mais claros e mais pragmáticos, ao cu, que é a designação mais sintética e mais apropriada para a região do corpo humano onde se desenvolvem variadas actividades, umas meramente fisiológicas (“defecar”, ou, se preferirem, “evacuar”; ou a expulsão de ar devido ao “flato”, sob a forma de gases malcheirosos, popularmente designados por “peidos” ou, para almas mais sensíveis, “puns”) – outras menos inocentes, como a utilização do ânus para actividades eróticas. Neste último aspecto, o cu tem um papel importante, muitas vezes alternativo em relação a outros orifícios naturais do corpo humano, igualmente utilizados para a introdução do pénis, ou de certos instrumentos de substituição. Entre estes, contam-se coisas tão insólitas como garrafas, cabos de vassoura, maçanetas de portas, etc., havendo exemplos de casos que requerem a intervenção de médicos ou, mesmo, de serralheiros...

ANDRÓGINO – Aquele que reúne em si as características dos dois sexos, feminino e masculino. O mesmo que hermafrodita. Nome científico para classificar um indivíduo que, em linguagem corrente, costuma ser alvo de outras designações menos eruditas. Por exemplo: se o indivíduo se parece com um homem, mas só de um modo muito vago, chamam-lhe, provavelmente, “maricas”; se parece uma mulher, mas não muito convincentemente, então talvez lhe chamem “fufa”. Estas designações preconceituosas não têm, porém, razão de ser, porque as características de tais pessoas nascem com elas, não podem ser modificadas por simples opção, e são tão naturais como ter um nariz mais ou menos comprido.

ANDROPAUSA – Diminuição da actividade genital do homem, equivalente à menopausa da mulher. Fase da vida em que o homem começa a ficar um tanto ou quanto angustiado, e a perguntar, aos amigos da mesma idade, se eles também têm episódios de falhanço, e se estão a sentir-se “ir abaixo” – moralmente e não só.

ANILINCTUS – Acção de lamber o ânus. Exercício de excitação pré-coital, por vezes associado à coprofagia, tudo isto geralmente incluído no capítulo das aberrações. É o modo de satisfação conjugal de M. Bloom, um dos heróis da célebre obra de James Joyce “Ulisses”. Na mitologia cristã, seria uma das provas que Satã impunha aos seus adeptos, sacerdotes e sacerdotisas, durante o Sabat.

ASCETISMO – Consagração à "Ascese", ramo da filosofia grega que impõe práticas e disciplinas de austeridade e autocontrolo do corpo e do espírito. O asceta aplica voluntariamente mortificações a si próprio, entre as quais a completa renúncia a toda a actividade sexual, atitude que os não-ascetas consideram um desperdício.

ASSEXUADO – Aquele que não tem órgãos sexuais – ou que, pelo menos, aparenta não os possuir. Ou então, é como se os não tivesse, porque não os usa... Nesta última hipótese, pode tratar-se de um caso de pouca apetência para práticas relacionadas com o sexo, causada por frigidez, impotência, etc. De qualquer maneira, um assexuado perde ingloriamente a possibilidade de gozar alguns dos mais deliciosos prazeres da vida.

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