08/02/2012

O EROTISMO A NU - De "CANTÁRIDA" a "CENTAURO"

CANTÁRIDA – Insecto da ordem dos Coleópteros, família dos Meloídios ("Lytta vesicatoria"), que se seca, se pulveriza e se utiliza, em pó ou diluído numa solução alcoólica, apreciado pelas propriedades diuréticas e afrodisíacas da cantaridina, conhecidas desde a mais remota Antiguidade. Este besouro é designado, em linguagem comum, por “burrinho”. Muitos homens acreditam poder reencontrar, nesta droga, a virilidade perdida; mas ela é também perigosa, podendo dar origem a intoxicações graves, com efeitos nos rins e em todo o aparelho genital e urinário. Claro que qualquer homem acha agradável verificar como o seu uso lhe produz uma bela erecção – mas esse efeito poderá, por vezes, derivar para um priapismo continuado, um fenómeno bastante incómodo, já que uma erecção interminável acaba por ser bastante embaraçosa.

CARNAVAL – As festas de Carnaval, sendo uma recuperação cristã das festas profanas da Antiguidade, começavam no dia de Reis (Epifania) e terminavam na quarta-feira de Cinzas. Depois, foram reduzidas a três dias, com festejos mais ou menos pagãos, incluindo bailes, desfiles e paródias, em que os participantes usam máscaras e fantasias, praticando todas as liberdades, incluindo as sexuais, que lhes estão proibidos no resto do ano. A palavra parece derivar do Latim “carne levare”, que significa “abstenção da carne”, o que entra em contradição com a realidade corrente, pois é no Carnaval que mais se glorifica a carne – especialmente a carne humana, generosamente exposta em desfiles como os do Carnaval do Rio de Janeiro, os mais famosos do mundo, em que a folia é tanto maior quanto menores forem os trajes carnavalescos exibidos.

CARTAS – Forma de comunicação, actualmente em desuso, substituída por outros meios mais modernos e mais práticos. No entanto, durante séculos, as cartas de amor constituíram um manancial de sugestões de carácter sexual, mais ou menos camufladas atrás de expressões simbólicas, poéticas e literárias. Em épocas em que era difícil a aproximação física entre os enamorados, escreviam-se muitas cartas, com as quais se mantinha, às vezes durante anos, um relacionamento artificial, tão artificial como as palavras bonitas que enchiam páginas laboriosamente caligrafadas – e que, anos mais tarde, se descobriam no fundo de uma gaveta, num molho atado com uma fitinha, e se reliam com um sorriso melancólico, comentando: “As parvoíces que a gente escrevia!...” Houve cartas que ficaram famosas, como as da Soror Mariana Alcoforado ao seu sonhado amante francês, e as que foram citadas por Fernando Pessoa, quando, através do heterónimo Álvaro de Campos, escrevia que “todas as cartas de amor são ridículas; não seriam cartas de amor se não fossem ridículas”.
            De outro género são as "cartas de jogar", que não servem apenas para o bridge ou para a bisca, mas, também, para adivinhar o futuro daqueles e daquelas que têm mais fé num "ás de copas" que nas juras de alguém que promete um futuro cheio de "ouros".

CASAMENTO – Cerimónia que, em alguns dicionários, ainda vem definida como “vínculo conjugal entre um homem e uma mulher”, conceito já ultrapassado, pelo menos em alguns países onde tal cerimónia pode ser protagonizada por dois homens, ou por duas mulheres, embora provocando o escândalo de uma parte da sociedade tradicional. Também pode chamar-se casamento a qualquer associação, aparentemente harmoniosa, de duas ou mais coisas – por exemplo, um inesperado acordo entre um partido comunista e uma organização fascista.
O nome casamento pode ainda designar a cerimónia em si mesma, constituída por todo o ritual que lhe está adstrito, e que passa pelas listas de prendas, os vestidos e fatos de cerimónia, a escolha dos padrinhos, do local, do fotógrafo e dos convidados, as despedidas de solteiros, o nervosismo da espera perante o inevitável atraso da noiva, a atrapalhação na altura do “sim”, o arroz atirado aos olhos dos recém-casados, a interminável chatice das fotografias de grupo com todos e cada um dos presentes, as falhas e demoras no serviço do copo-de-água, o baile, as bebedeiras de alguns, as partidinhas parvas, o leilão da liga da noiva, as primeiras brigas – sabendo-se que tudo isto, estatisticamente, tem grandes probabilidades de acabar, dentro de pouco tempo, num divórcio.
Existem vários tipos de casamento: o “civil”, o “religioso”, o “aberto” (em que os cônjuges têm outros parceiros sexuais), o “branco” (em que não existe “truca-truca”), o “de mão esquerda”, ou “morganático” (em que um é nobre e outro é plebeu), o popularmente chamado “casamento-à-porta-do-talho” (em que não há casamento nenhum, limitando-se o par a fazer aquilo que se chama “juntar os trapinhos”); etc.

CASANOVA – Giovanni Casanova de Seingalt (1725-1798) foi um famoso aventureiro, nascido em Veneza, filho de comediantes. Foi seminarista, depois músico e escritor, mas foi, acima de tudo, um conquistador irresistível e um eterno amoroso, que percorreu toda a Europa, privou com personalidades como Frederico o Grande, Voltaire, Rousseau, Bento XIV, Clemente XIV, e seduziu um número incalculável de mulheres, pelo seu encanto pessoal, que o levou a ter aventuras amorosas em numerosos países. Pode dizer-se que as mulheres fizeram a sua fortuna. Escreveu alguns livros, em que se revela mais brilhante do que profundo, entre os quais as “Memórias” e “A História da Minha Vida”, um documento precioso sobre os costumes do século XVIII. Aí mistura os relatos libertinos das suas numerosas conquistas com afirmações de fé cristã. Vaidoso, relata aventuras galantes extraordinárias, como o episódio em que revela ter obtido os favores sucessivos ou simultâneos de cinco irmãs, ou aquele em que teria oferecido uma moeda de ouro a um rapaz para que este o deixasse possuir a sua noiva. Dizendo-se sempre vítima dos seus sentidos, detestava crianças, mas teve a sorte de ser estéril – senão, teria em sua perseguição as muitas mulheres que amou e abandonou, por toda a Europa. Era um narcisista, que afirmava “Amo a mim próprio muito mais do que qualquer pessoa jamais me terá amado”.

CASTIDADE – Abstinência completa dos prazeres do amor. Exigida por algumas religiões, representa uma recusa absoluta dos gozos carnais, a qual só pode ser conseguida por um grande auto-domínio, ou pela convicção profunda de que essa é uma forma de atingir um estado de virtude moral mais sublimado. Os cínicos, porém, afirmam que só é verdadeiramente casto quem nunca teve oportunidade para fazer amor. Não se pode dizer que a castidade seja uma virtude muito praticada, nos tempos actuais – mas, na verdade, nunca o foi, em tempo algum.

CASTRAÇÃO – A operação de castrar, ou "capar", consiste na ablação dos órgãos de reprodução. É uma intervenção que pode ser feita com intenções tão diversas como: evitar definitivamente que uma pessoa possa ter filhos; fazer com que um animal fique gordo e suculento (no caso dos galos chamados “capões”); evitar o nascimento de incómodas ninhadas de “tarecos” (no caso das gatas); fazer com que um menino, que nasceu com uma voz celestial, a conserve para sempre, e se torne um aplaudido cantor de Ópera, um castrato, com uma tessitura de voz especial, muito admirada pelos amantes do belcanto; ou preparar profissionalmente um guardião-de-harém, ou eunuco – profissão que foi muito popular, no Médio Oriente antigo, mas que parece estar em extinção, lançando esta classe de gente no desemprego, o que é sempre de lamentar.

CELIBATO – Estado civil de quem está solteiro – situação que pode ser justificada por convicções de ordem moral, por imposições de ordem religiosa, ou, simplesmente, por puro egoísmo. Este último caso aplica-se a quem prefere viver só, sem ter que aturar um parceiro ou parceira, podendo assim gozar as vantagens da vida de solteiro sem os inconvenientes da vida matrimonial – e, ainda por cima, se for sedutor, podendo mesmo aproveitar as delícias de ambos os estados civis, simultânea ou alternadamente.
            O celibato dos padres da igreja católica é um assunto controverso, muito discutido, com posições contra e a favor. Quem defende estas últimas são os tradicionalistas, que argumentam com a disponibilidade completa que um padre deve ter para as suas tarefas espirituais. Opinião contrária têm aqueles que pensam na hipocrisia da situação de um padre solteiro, sujeito, como todos os homens, às tentações do sexo, por mais que tente reprimi-las. Argumento complementar é o de que a imposição do celibato só foi feita a partir do ano 1000, por ocasião do grande terror provocado pelo anunciado fim do mundo, não havendo nenhuma outra directiva conhecida a esse respeito, e existindo até a convicção de que o próprio Cristo teria sido casado. Houve uma tímida tentativa para acabar com tal arcaísmo, no concílio Vaticano II, mas que não se concretizou, por contra-pressão dos tradicionalistas. Daí a proliferação, em certas épocas, de tantos “afilhados” ou “protegidos” de padres solteiros.  

CENTAURO – De acordo com a Mitologia, era um ser que reunia características de homem e de cavalo. Segundo a Fábula, os Centauros seriam originários da Macedónia. Ixion, um herói da Tessália, que fora acolhido no Olimpo, aí se apaixonou pela rainha dos Deuses, transformada em Nuvem, sendo dessa união que nasceram os Centauros, que seriam exterminados, mais tarde, pelos Lápitas, com a ajuda de Teseu e Hércules. Este combate foi muitas vezes representado na arte antiga, podendo admirar-se nos frisos do Parténon e no frontal do templo de Zeus, em Olímpia. Segundo a tradição, Aquiles teria sido criado por um Centauro chamado Chiron, de quem os Gregos fizeram um dos inventores da Medicina. Os Centauros seriam deuses do vento, e a psicologia moderna tem tendência para identificar o vento, o cavalo e a líbido, no sentido de uma sexualidade primitiva, não completamente humanizada, com uma força avassaladora. De qualquer maneira, embora se saiba que uma Deusa podia amar todo e qualquer ser, fosse ele qual fosse, não é fácil imaginar como é que, mesmo uma Deusa, poderia fazer amor com algo tão estranho como um Centauro.

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