16/12/2012

"OS CÓMICOS " - O PASTEL DE NATA

DURANTE ALGUM TEMPO, INTERROMPENDO A PUBLICAÇÃO DOS MEUS LIVROS NÃO EDITADOS, TRANSCREVEREI AQUI ALGUMAS DAS CRÓNICAS QUE, SOB O TÍTULO GERAL "OS CÓMICOS", VENHO PUBLICANDO NO "DIÁRIO DO SUL", DE ÉVORA.
EIS UMA DELAS:

O PASTEL DE NATA.

Quando um tal Mark Elliot Zuckerberg inventou, há uns escassos oito ou nove anos, essa internética rede de contactos a que deu o nome de facebook, poucos acreditavam que aquele imaginoso rapaz viesse a ter êxito na vida, com aquela ideia, um pouco ridícula, de criar um sistema de comunicações que iria pôr as pessoas a enviar mensagens patetas umas às outras… Houve quem se risse da ideia e pensasse que aquilo não passava de uma tontice sem consequências…  Pois bem, o que é certo é que, em pouco tempo, mais de mil milhões de pessoas desataram a mandar mensagens aos seus “amigos-do-facebook” – e o Zuckerberg, quase de repente, transformou-se num dos sujeitos mais ricos do mundo, graças à ideia daquela fábrica de fazer dinheiro, pela qual ninguém daria antes um tostão furado (ou, na versão mais actualizada, um euro desvalorizado)… É certo que o facebook, vendo bem, serve principalmente para as pessoas sem nada para fazer passarem os dias a enviar uns aos outros mensagenzinhas e bonecos mais ou menos idiotas (mas, enfim, isso sempre dá para as manter entretidas), ou então para enriquecer o manancial de insultos-aos-políticos, que constituem o principal motivo dessas mensagens. A capacidade inventiva da nossa gente manifesta-se em toda a sua exuberância, na criação de frases, bonecos, fotografias tão achincalhantes quanto possível, que ponham os políticos de rastos… E foi nesta ordem de ideias que toda a gente se fartou de rir quando, aqui há tempos, um senhor ministro dos nossos se lembrou de sugerir que uma boa ideia para aumentar as nossas exportações e ganharmos dinheiro para animar a Economia, seria incentivar a produção do nosso pastel de nata!... O que foste tu dizer! Todos os inventores-de-anedotas lusitanos desataram a gargalhar e a meter a ridículo o ministro e a sua ideia! Quando a coisa já começa a esquecer, lá aparece mais um gracioso a acrescentar nova piada ao catálogo das ridicularizações sobre o nosso querido pastel… Pois bem, tenho a informar que andei por aí a fazer umas investigações, e descobri realidades inesperadas. Na China, por exemplo, um português empreendedor (como parece que são todos os portugueses, quando deixam de praticar a má-lingua cá dentro e vão trabalhar a sério lá fora) abriu um negócio de pastéis de nata – e já tem, agora, mais de 30 estabelecimentos a adoçar a boca aos chineses. Estes gostam muito do pu shi dan ta, que é a tradução do petisco para língua deles, a tal ponto que, já na Expo que eles lá fizeram, há dois anos, papavam qualquer coisa como dezassete mil pastelinhos por dia! Ou seja, essa especialidade (que começou a ser produzida, em 1837, ali para os lados de Belém, e onde se vendem diariamente mais de vinte mil pastéis), é um êxito no Oriente… E porque não noutras partes do mundo? Fiquem sabendo que, em Paris, vendem-se pastéis de nata com muito êxito, e só falta difundir mais a sua existência para que o consumo aumente… A família real britânica é apreciadora habitual, e manda comprar pastéis de nata todas as semanas… E o Brasil, que está agora a ficar rico e, por isso, exige cada vez mais coisas boas para degustar? Pois o Brasil, embora tenha lá os seus quitutes, os seus acarajés e outras especialidades tão boas, está a consumir cada vez mais pastéis de nata!... Os quais também já são conhecidos no Canadá… Quer isto dizer que o negócio dos pastéis não é, apenas, um negócio-da-China – e já se estende potencialmente a muitos outros países… Portanto, os que riem desdenhosamente da ideia ministerial , talvez fizessem melhor se pusessem as mãos na massa e começassem a fazer pastéis – em vez de se limitarem à habitual má-língua… É certo que esta, a má-língua, também é um produto nacional com largas tradições e abundante produção. Por isso, sei lá, talvez seja outra ideia aproveitável: quem não tiver jeito para exportar os nossos tradicionais pastéis de nata, que exporte a nossa não menos tradicional má-língua! O que é preciso, é que a Economia cresça…

2 comentários:

  1. Realmente, a história do pastel de nata fez-me lembrar a abertura dum outro negócio a saber:-
    Vou abrir um negócio que será a "PONCHA DA MADEIRA". Também é conhecida internacionalmente e, o Alberto João Jardim, será um grande embaixador...

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    1. E porque não a difusão internacional das malaguetas?...

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