18/10/2012

E SE O 25 DE ABRIL TIVESSE FALHADO? (4)

Voltando um pouco atrás, para falar da figura admirável que foi, e sempre continuará a ser, a referência incontornável do nosso passado, projectando-se no nosso presente e no nosso futuro!

Impõe-se aqui este parêntesis, para uma referência a alguns factos relacionados com uma figura muito importante – tão importante que viria a ganhar brilhantemente um interessante concurso de popularidade, na televisão, passados muitos anos sobre o seu infausto desaparecimento! E até ficou a grande distância de todas as outras figuras que estavam a concurso!

Falo, naturalmente do Senhor Professor Doutor António de Oliveira Salazar. Como já foi referido, este tinha morrido, em 27 de Julho de 1970... – Finalmente! – suspiraram, aliviados, alguns pobres idiotas, irresponsáveis e ingratos, sem se aperceberam da falta que aquele Génio lhes viria a fazer... Desde o dia 28 de Abril de 1889, quando ele nascera, no seio de uma família modesta, na aldeia de Vimieiro, ali para os lados de Santa-Comba-Dão, até ir estudar para a Universidade de Coimbra, em 1910, sempre fora um aluno exemplar. E assim continuou, durante os seus estudos de Direito, vivendo na "República dos Grelos", onde a criada para todo o serviço era uma tal Maria de Jesus – de quem ouviremos falar abundantemente, lá mais para diante, nesta história...

Aquele jovem tão prometedor fez o curso com 19 valores e todos o consideravam um génio em Ciência Económica. Depois da revolução de 28 de Maio de 1926, o General Gomes da Costa mandou-o chamar para lhe entregar o importante cargo de Ministro das Finanças. Mas ele, ao ver a colecção de alarves fardados que se preparavam para mandar nesta velha Nação, achou por bem dar meia volta e regressar a Coimbra... Várias outras tentativas para o aliciar foram sendo por ele recusadas, com grande dignidade. Até que, em 1928, quando já era Presidente da República Sua Excelência o Senhor General Óscar Fragoso Carmona, ele se instalou definitivamente no Ministério das Finanças – e, a partir daí, foi sempre subindo por aí acima, até ser Presidente do Conselho de Ministros e mandar praticamente em toda a gente e em todo o país! Que maravilhosa, admirável e bem sucedida carreira, não acham?

A Constituição de 1933, fruto do seu génio político, seria o esteio do chamado Estado Novo, baseado na trilogia Deus-Pátria-Família. Já então instalado no Palácio de São Bento, conservara como governanta a mesma Maria de Jesus, dos tempos de Coimbra, que o serviria fielmente até ao seu último momento.

Uma palavra especial para esta excelsa Senhora, que aprendera com o seu patrão e Mestre a arte de governar a vida – com os mesmos princípios com que se governa uma casa de família ou uma mercearia. Graças a ela (e este é apenas um exemplo da boa gestão que se praticava naquela casa), os jardins do Palácio foram enriquecidos com umas belas coelheiras, onde se criavam coelhos para os jantarinhos de Sua Excelência, e amplos galinheiros, de onde saíam as galinhas para as saborosas cabidelas, tão agradáveis ao Senhor Doutor, e muitas dúzias de ovos que eram vendidos no mercado, revertendo a receita respectiva para amortização das despesas da casa. Admirável gestão, na verdade! (Há quem não acredite nestes factos, alegando que são fantasiosos, mas posso assegurar que são autênticos, e que comprovam o génio económico-financeiro que dominava aquele modelo de lar!)

Os inimigos de Sua Excelência diziam, em surdina, aí pelos cafés, que, embora sendo certo que tão sábia gestão contribuíra para encher os cofres do Banco de Portugal com barras de ouro, mais valera que tivesse aplicado tal fortuna na educação do povo... Tretas! Um povo educado é um povo com muitas exigências, e era muito capaz de começar para aí a pedir coisas esquisitas, como eleições, liberdade de imprensa, o amor livre e outros disparates... 

Enfim, é bem conhecida a grandiosa obra de Sua Excelência o Senhor Professor Doutor António de Oliveira Salazar, durante os muitos anos em que mandou nesta Bem Amada Pátria, pelo que me dispenso de fazer a lista das coisas boas que foram feitas, durante esse longo período de tempo do seu sábio governo.

Até que, lamentavelmente, chegou o seu fim...

É preciso sublinhar, uma vez mais, que o seu sucessor, o Professor Doutor Marcello Caetano, inaugurara um estilo de governação muito diferente (como também já referi atrás), e que até foi, durante algum tempo, apelidado de primavera marcelista. Esta primaveril designação faria imaginar um tempo ameno e florido, em que os passarinhos cantariam durante as reuniões do Conselho de Ministros, e as rosas e os malmequeres enfeitariam as austeras bancadas da Assembleia Nacional, onde os Senhores Deputados discutiam gravemente os problemas do país, nos intervalos da leitura de O Século e do Diário da Manhã, além de umas retemperadoras sestas, na tepidez das tardes outonais... Mas rapidamente se viram dissipadas as expectativas que nele tinham posto algumas pessoas, entre as quais se destacava um grupo de jovens deputados, os quais haviam tentado modificar o Regime por dentro, entrando para a Assembleia Nacional, integrados numa chamada "ala liberal", contestatária e truculenta. Aí se destacara um tal Francisco Sá Carneiro, acompanhado por um tal Miller Guerra, um tal Francisco Pinto Balsemão, um tal João Bosco Mota Amaral, um tal Magalhães Mota e uns tais outros... Sempre era um começo de contestação, a que era necessário estar atento. Depois, houve uma série de outros pequenos incidentes, como já se contou atrás, além de mais alguns, que se hão-de contar à frente...

Situemo-nos, então, na época que me propus abordar (Março-Abril de 1974), para analisar os factos dramáticos e muito importantes que então ocorreram.

  
O mês de Março de 1974 – um mês complicado, com perigosas ameaças de revolução, logo depois de uma simpática ameaça de beija-mão.
  
Não há dúvida de que este foi um mês muito complicado...

Praticamente na véspera do golpe das Caldas da Rainha, já citado e explicado, e que configurava uma tentativa de revolução, houvera um outro, que poderia classificar-se como uma tentativa de "golpe de beija-mão" – isto em sentido figurado, entenda-se.

É que, no dia 14 desse mesmo mês de Março de 1974, um grupo de oficiais superiores dos três ramos das Forças Armadas resolvera ir manifestar a sua respeitosa obediência ao Senhor Presidente do Conselho, Professor Doutor Marcello José das Neves Alves Caetano. Desejavam assim demonstrar que nem todos os militares eram respingões, como esses tais que andavam por aí em movimentos, e que eles, pelo contrário, se sentiam muito bem como estavam, isto é, parados e devidamente governados (alguns gabavam-se disso mesmo, dizendo: – Eu, na tropa, até me governo muito bem!), desejando apenas duas coisas: uma vidinha sem chatices – e a tranquilidade da reforma.

Com intenções maldosas e com alguma crueldade, houve quem chamasse, a esse grupo, a Brigada do Reumático... Nada mais injusto! Aqueles venerandos militares foram ali, é certo, com as suas bengalas, alguns coxeando ligeiramente, amparados aos seus ajudantes-de-campo, por causa da gota, para manifestarem, patrioticamente, que estavam com a Autoridade Estabelecida e que não pretendiam embarcar em aventuras. Na verdade, não pretendiam de todo embarcar, nem em revoluções, nem para África... Foi só isso que eles foram manifestar – aqueles que puderam falar, porque a emoção e o catarro embargavam a voz à maioria. Mas deve sublinhar-se que foi uma cerimónia muitíssimo bonita e bastante comovente, segundo me contaram!

Fortalecido por tão expressivo apoio, o Governo, logo no dia seguinte, demitia os generais Costa Gomes e Spínola. Bem feito, para não se armarem em contestatários! E sempre eram uns dinheiros que se poupavam, dos respectivos soldos...

Como se pode verificar, esse mês de Março estava a ser bastante animado, talvez pela proximidade da época de Carnaval... Assim, no dia 24, os inteligentíssimos e perspicazes agentes da PIDE souberam que se realizara, na casa de um dos capitães envolvidos na conspiração, mais uma reunião clandestina, em que se decidira que a golpada militar iria realizar-se numa data entre 22 e 29 de Abril. Também se descobriu que o major Otelo Saraiva de Carvalho ficara responsável pelo "Plano Geral das Operações".

No entanto, para demonstrar a perfeita e absoluta tranquilidade em que o país vivia, Sua Excelência o Presidente do Conselho proporcionou-nos, no dia 28 de Março, mais uma das suas apreciadas "Conversas em Família" – ou seja, uma daquelas interessantes palestras televisivas que faziam reunir, nos seus lares, todas as famílias portuguesas, para escutarem as palavras sábias de Sua Excelência o Professor Doutor Marcello José das Neves Alves Caetano. Como já comentei, havia quem afirmasse, com espírito malévolo, que, sim senhor, essas palestras serviam para reunir todos os elementos das famílias – mas para todos dormirem tranquilamente diante dos televisores... Claro que se tratava de pura aleivosia, pois aqueles discursos eram, na verdade, escutados com toda a atenção, pelo menos pelos jornalistas que, no dia seguinte, tinham de os transcrever fielmente nos seus jornais. Portanto...

CONTINUA, NA PRÓXIMA SEGUNDA-FEIRA



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