23/10/2012

E SE O 25 DE ABRIL TIVESSE FALHADO? (5)

Excepcionalmente à terça-feira

Chega o mês de Abril, com o Sol, o bom tempo, os passarinhos e alguns passarões...

Este mês de Abril de 1974 havia de ficar, para sempre, indelevelmente assinalado na nossa História, pelas melhores e pelas piores razões...

Os contestatários, coitaditos, lá continuavam com as suas manobras subterrâneas, com as suas conspirações e com as suas combinações. Entre os dias 21 e 22 aprovaram o tal "Plano Geral das Operações" e inventaram uma sigla... A sigla era MFA – "Movimento das Forças Armadas" – pois era assim que eles chamavam ao conjunto das tropas envolvidas na barafunda que pretendiam implantar no país. Isto embora alguns patriotas, entre os raros que iam sabendo do que se tramava, preferissem traduzir a sigla por "Malandrecos Fazendo Agitação", um trocadilho que tinha, sem dúvida, muita laracha!...

Soube-se ainda, através dos espertíssimos espiões das nossas competentes forças de segurança, que o tal major Otelo tinha escolhido o Regimento de Engenharia nº 1, na Pontinha, para instalar o Posto de Comando dos revoltosos. Claro que ninguém levou aquilo a sério! Um Posto de Comando na Pontinha? Ora bem, era coisa para ser liquidada sem problemas – "na pontinha da unha", como diria, com muita graça, um militar patriota que fora informado do que se tramava.

Ainda por cima, eles previram uma senha, um código, que era perfeitamente ridículo! Nada mais nada menos que... uma cantiga do "Festival da Canção" da RTP! Coisa mais tosca seria impossível de imaginar... Para mais, a cantiga, cujo título era E depois do Adeus, tinha uma letra sem pés nem cabeça, que começava por: Quis saber quem sou, o que faço aqui, quem me abandonou, de quem me esqueci, perguntei por mim... e assim por diante, uma série de dúvidas e de perguntas, numa trapalhada muito grande... Pelos vistos o cançonetista Paulo de Carvalho estaria muito baralhado e sem saber o que havia de fazer da sua vida – ou melhor, a culpa não era dele, coitado, que o rapaz até tinha boa voz, a culpa era de um tal José Niza, o autor desta letra estapafúrdia, que não poderia, de maneira alguma, inspirar uma verdadeira revolução! Mas pronto, foi esta tontice cantada que eles resolveram usar como código para o início da sua tonta revoluçãozinha. Não admira que esta tivesse dado no que deu... 

E mais: para completar e reforçar o código dos revoltosos, a esta cantiga, que seria transmitida nos Emissores Associados de Lisboa, às 22.55 do dia 24, ainda se seguiria uma outra, transmitida às 00.20 do dia 25, no programa Limite da Rádio Renascença. Era uma coisa sem graça nenhuma, chamada Grândola vila morena, de um tal Zeca Afonso, em que se ouviam as pessoas a marchar, parece que com botas cardadas, nalguma estrada alentejana de macadame, e a cantar uns disparates do género... "em cada esquina um amigo", que eu, e todos os patriotas como eu, achamos que não havia razões para cantar, como se nós precisássemos de reivindicar amizades – nós que temos um amigo em qualquer ministério, em qualquer repartição pública onde seja necessário meter uma "cunha"! Enfim, coisas de amadores sem categoria para fazer revoluções, aliás injustificadas num país calmo, próspero e tranquilo, como tem sido, felizmente, o nosso!

Enfim, se era assim que eles pretendiam revolucionar o país, mais valia terem ficado quietinhos, encostados às esquinas de Grândola e de todas as outras terras do país...     



Entre o dia 24 e o dia 25 de Abril: o que aconteceu e o que podia ter acontecido.

 Fixemo-nos então no dia 24 de Abril de 74, quando tudo se preparava para destruir a patriótica obra do Estado Novo, elaborada ao longo de várias décadas de trabalho árduo, de enorme sacrifício e de total dedicação à Pátria, principalmente, por parte de Sua Excelência o Senhor Professor Doutor António de Oliveira Salazar e, depois, pelo seu continuador, ainda que mais modesto, Professor Doutor Marcello José das Neves Alves Caetano, sob o beneplácito carinhoso de Sua Excelência o Presidente da República, o venerando Contra-Almirante Américo de Deus Rodrigues Thomaz.

Pois, nesse dia, preparava-se aquilo que os seus mentores previam que viesse a ser chamada a "Revolução dos Cravos". O jornal República, que sempre se pusera maldosamente ao lado de quem contestava a valiosa obra do Estado Novo, chamava a atenção para o programa Limite dessa noite, na Rádio Renascença. Lá por volta das dez da noite, em vez de ficarem pacatamente em casa, a ver os interessantes programas da RTP, começava a reunir-se, no Regimento de Engenharia nº 1, na Pontinha, um grupo de perigosos revolucionários, entre os quais se contavam os tenentes-coronéis Garcia dos Santos e Lopes Pires, os majores Otelo Saraiva de Carvalho, Sanches Osório e Hugo dos Santos, o capitão-tenente Vítor Crespo e o capitão Luís Macedo. E não seria para passarem o serão a jogar à bisca, isso era mais que certo!...

Uma hora antes, o major Otelo tinha feito chegar ao General Spínola um arrazoado que muita gente, entre a qual me conto, havia de considerar muito mal escrito, intitulado "Proclamação ao País do Movimento das Forças Armadas Portuguesas". 

Pois bem, nessa noite, lá pelas 22.55 horas, quem ligasse a telefonia para os Emissores Associados de Lisboa, não escutaria, afinal, essa tal anunciada e infeliz canção! Não, não estava a ser transmitida a cantiga intitulada E depois do Adeus... E mais tarde, às 00.25, a Rádio Renascença também não confirmaria o golpe, pois não transmitiria a prevista Grândola, vila morena...!

No entanto, acreditando que houvera um lapso qualquer na programação, as tropas revoltosas começaram, mesmo assim, a movimentar-se, de acordo com os seus maquiavélicos planos...

E é então que se dá a grande reviravolta!

CONTINUA NA PRÓXIMA QUINTA-FEIRA


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