05/10/2012

O PORTUGUÊS PITORESCO - FINAL

CAPÍTULO 17

 
PROVÉRBIOS NA PAREDE

Ainda a propósito de provérbios:
A Casa Roque Gameiro, na Venteira, Amadora, pertenceu ao grande aguarelista Roque Gameiro, que ali teve a sua residência e o seu ateliê, cerca de 1898. Esta Casa, concebida pelo seu dono, teve ainda um projecto adicional, assinado pelo Arquitecto Raul Lino, em 1900. Nas paredes da sala de jantar existem frisos de azulejos de Rafael Bordalo Pinheiro, executados na Fábrica de Caldas da Rainha, com provérbios populares sobre o tema da Alimentação. São os seguintes: 

VINHO, AZEITE E AMIGO, DO MAIS ANTIGO
COME PARA VIVER, NÃO VIVAS PARA COMER
COM PAPAS E BOLOS SE ENGANAM OS TOLOS
DE FOME, NINGUÉM VI MORRER...MUITOS SIM, DE MUITO COMER
A MELHOR MOSTARDA É A FOME
QUEM NÃO TRABALHA NÃO COME
SOPA DE MEL NÃO SE FEZ PARA A BOCA DO ASNO
PÃO QUENTE, MUITO NA MÃO E POUCO NO VENTRE
À TUA MESA E À ALHEIA NÃO TE SENTES COM A BARRIGA CHEIA
NÃO DIGAS DESTA ÁGUA NÃO BEBEREI, NEM DESTE PÃO NÃO COMEREI
QUEM CEIA E LOGO SE VAI DEITAR MÁ NOITE HÁ-DE PASSAR
EM CASA ONDE NÃO HÁ PÃO, TODOS RALHAM E NINGUÉM TEM RAZÃO
PALAVRAS NÃO ENCHEM BARRIGA

  
LIVROS DE PROVÉRBIOS

Já do Antigo Testamento fazia parte um Livro dos Provérbios, atribuído a Salomão, com uma série de conceitos morais.

 Mas, no decorrer dos tempos, foram surgindo muitos livros com colectâneas de provérbios, ditos populares, rifões, anexins ou frases-feitas.

José Ricardo Marques da Costa, em O Livro dos Provérbios Portugueses, da Editorial Presença, juntou cerca de 34 mil provérbios.

Outras obras descobertas em pesquisa na Internet:

O grande Livro dos Provérbios, José Pedro Machado, Círculo de Leitores, Lisboa,
1997
A Sabedoria dos Provérbios, de António Estanqueiro, da Editorial Presença
O Livro dos Provérbios, de Salvador Parente, Círculo de Leitores, 2005 (contém 41.697 provérbios)
Rifoneiro Português, de Pedro Chaves
Provérbios e Ditos Populares, de José Alves Reis, 1996
Provérbios Portugueses, António Moreira, 1996
Dicionário das Origens das Frases Feitas, Orlando Neves, 1992
Dicionário de Máximas, Adágios e Provérbios, Jayme Rebelo Hespanha, 1936
O essencial sobre os provérbios medievais portugueses, de José Mattoso
O livro dos provérbios, de António Mota, Vila nova de Gaia, 2000, Gailivro

O registo de nascimento de cada provérbio é muito difícil de se encontrar, embora cada um deles resuma frequentemente a filosofia duma época e defina a idiossincrasia de uma determinada gente.
A obra do Abade de Baçal Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança dedica várias páginas ao tema dos rifões populares e locuções adverbiais.
Diz ele que "os provérbios, também conhecidos de rifões, anexins, adágios, sentenças, exemplos, ditados, máximas, parémias, apotegmas e aforismos, encerram a filosofia de um povo sintetizada em breves conceitos por forma elegente, irónica, metafórica, alegórica, rimada, faceta e jogralesca, que muito elucidam a etnografia das nossas gentes, caracterizando o grau da sua mentalidade. É enorme a sua importância e deles se serviram os filósofos antigos de todos os povos, os poetas, os legisladores e os sacerdotes para divulgar as suas doutrinas. Sócrates e Platão testificam a sua utilidade e Viço chama-lhe a linguagem dos deuses".
Refere as obras portuguesas que na altura se haviam publicado sobre provérbios:
Filosofia Moral tirada de alguns provérbios, de Padre Frei Aleixo de Santo António, 1640
Adágios Populares, de Padre António Delicato, 1651 (é a colecção mais antiga da nossa língua)
Feira de anexins, de D. Francisco Manuel de Melo, 1875
Florilégio dos modos de falar e adágios da língua portuguesa, de Padre Bento Pereira, 1655
Vocabulário Português e Latino, de Padre D. Rafael Bluteau, 1712 a 1728
Apotegmas, de Pedro José Súpico, 1720
Nova Floresta, de Padre Manuel Bernardes, 1706 a 1728
Ensaio Fraseológico...sentenças, provérbios e máximas da língua portuguesa, de Francisco António da Cunha de Pina Manique, 1856
Ensaios Etnográficos, de José Leite de Vasconcelos


Eis alguns dos rifões publicados pelo Abade de Baçal, entre os que parecem mais engraçados e diferentes:

A cabra e a azenha são de quem a ordenha
A galinha onde tem os ovos ali tem os olhos
A ovelha que mais corre não é a que mais come
A primeira hóstia sabe sempre ao ferro
A quem coze e amassa não furtes a lenha nem a fogaça
À sombra dos ciganos comem os aldeanos
Ao cura e ao juiz o diabo lho diz
Asno morto cevada ao rabo
Barba ruiva uma diz e outra cuida
Boi morto, vaca é
Cada um enterra o seu pai como pode
Cem esmolas não valem um jantar
Contas na mão e o diabo no coração
De Pedro a João poucas diferenças vão
 É fino, mas não caça ratos 
Em tempos de guerra, mentiras por mar e por terra
Fidalgos, galgos e calvos, vê-los e arrenegá-los
Filho da cidade, filho da iniquidade
Gente de vila mais panelas que comida
Honra e proveito não cabem num saco
Digo-te a ti sogra para que entendas tu nora
Duro com duro não faz bom muro
 Lume ao pé das estopas, vem o diabo e assopra-as
Mal de muitos consolo é
Moleiro que muito maquia perde a freguesia
Nunca o invejoso medrou nem quem ao pé dele morou
O hóspede e o carneiro aos três dias tomou cheiro
O pai impertinente torna o filho desobediente
O valente morre na mão do fraco
Para cura novo sacristão velho
Pelas obras e não pelo vestido é o homem conhecido
Porta aberta o justo peca
Quem adiante não olha, atrás fica
Quem diz o que quer, ouve o que não quer
Quem escuta de si ouve
Quem nos dá um osso não nos quer ver morto
Vale mais a pior avença do que a melhor sentença

Além destes, o Abade de Baçal apresenta provérbios interessantes sobre a Agricultura, a Economia doméstica, a Alimentação, o Casamento, os Filhos, o Homem e a Mulher, a Medicina, a Mesa, Meteorológicos, e sobre os Meses do ano, tais como:

Ainda que arreganhes os dentes não comes a semente
Casa que não é bem ralhada não é bem governada
No tempo das uvas cada um às suas
Para ser bom ano de pão hão-de vir sete neves e um nevão
Quem ara e fia ouro cria
Vale mais pão duro que vinho maduro
O casamento e a mortalha no céu se talha
Quem tem filhas e ovelhas não pode falar das alheias
Carros velhos e mulheres novas dão cabo dos homens
Quem com água se cura pouco dura
Geada na lama, água na cama
Janeiro, meia tulha e meio palheiro
Fevereiro quente traz o demo no ventre
Março trovejado, ano melhorado
Abril frio e molhado, enche o celeiro e farta o gado
Uma água de Maio e três de Abril valem por mil
Junho foice em punho
Em Julho
faz a cigarra barulho
Quem em Agosto ara riqueza prepara
Em Setembro ardem os montes e secam as fontes
Quando o Outubro for erveiro, guarda para Março palheiro
Pelos Santos pingam os trampos
Natal ao soalhar e Páscoa ao luar

TERMINA AQUI A PUBLICAÇÃO DESTE LONGO TRABALHO, QUE NÃO MERECEU O FAVOR DA PUBLICAÇÃO ATRAVÉS DE UMA EDITORA.
POR ISSO RESOLVI OFERECÊ-LO, POR ESTE MEIO, A QUEM ESTIVESSE INTERESSADO NELE.
OXALÁ TENHA ALGUMA UTILIDADE.

A SEGUIR, PUBLICAREI OUTRO LIVRO, QUE TEVE A MESMA SORTE DESTE... TRATA-SE DE UM ENSAIO, UMA FANTASIA INTITULADA
"E SE O 25 DE ABRIL TIVESSE FALHADO?..."

ATÉ DAQUI A UNS DIAS... 

1 comentário:

  1. Pois eu considero muito bom o seu trabalho. Obrigada.
    Sabe alguma coisa sobe o ditado «Maria vai com as outras» que os brasileiros teimam em dizer que se refere a D. Maria I quando foi para o Brasil em 1808 e que viveu num convento até morrer em 1816. Obrigada

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