17/03/2012

O EROTISMO A NU - De "KÂMA-SÛTRA" a "LEITO"

K

KÂMA-SÛTRA – Tratado, escrito pelo sábio indu Vâtsyâyana, em que o prazer sexual é considerado como o símbolo da beatitude suprema e um dos meios de atingi-la. Esta obra pretende explicar, com clareza, o erotismo (tendo em vista que a curiosidade sexual mal satisfeita é uma das causas principais da perversão mental), e conduzindo à fruição do sexo, de uma maneira sã. Contém capítulos específicos, como a “Arte de ganhar a confiança da sua mulher”, analisando a “Forma de abordar a recém-casada”, “Necessidade de ganhar o amor da mulher antes de ter com ela relações conjugais”, “O beijo”, “As relações íntimas”, “A titilação dos seios”, “A manipulação”, e outros. O capítulo “Classificação das uniões sexuais” compreende instruções sobre “Os dois aspectos da união sexual, classificação segundo as dimensões dos órgãos, os diversos géneros de união que justificam o tamanho, a natureza das paixões e a sua duração, e quatro categorias de gozo sexual”. No capítulo sobre “A arte de abraçar” fala-se dos “sessenta e quatro acessórios” para as relações, e de como abraçar durante o coito, as pressões e outras técnicas agradáveis. Outros capítulos tratam da “Arte e técnica do beijo”; “Atitudes durante a comunhão sexual – três atitudes em união estreita, quatro atitudes em união frouxa, outras atitudes durante a união sexual, atitude em que a mulher volta as costas ao homem, atitude da caça ou dos quadrúpedes, coito em grupo nas sociedades matriarcais”; “Inversão das atitudes nomais – em que se fala das formas de a mulher poder jogar um papel activo, como se revelam os sinais do aumento da paixão da mulher, dez formas de introdução do pénis, três formas de inverter atitudes”; “Conduta a observar antes e depois das relações sexuais”, e vários outros temas que fazem deste tratado, traduzido há séculos em todas as línguas, uma obra fundamental para orientação, não só dos ignorantes absolutos em questões sexuais, mas dos que pensam possuir vasta experiência na matéria, mas encontram, neste livro, novas e inesperadas sugestões.
            Todos os temas do Kâma-Sûtra estão representados, sob a forma de esculturas medievais, extraordinariamente explícitas, nos templos de Konarak, Pataliputra, Khajurâho, Bhuvanechouar ou Puri, em que se manifesta a supremacia de Shiva  (ou Siva, divindade da Fecundação, a qual, juntamente com Brama, o Criador, e Vixnu, o Conservador, integra a suprema trindade do hinduísmo). É neste livro e nestes templos que se misturam a vida espiritual e a emoção erótica dos hindus, elevadas a alturas verdadeiramente singulares. 


L

LÁBIA – Manha, palavreado, ronha, conversa, para convencer gente ingénua. “Ter muita lábia” é ser capaz de levar alguém a acreditar nas boas intenções do bem-falante, que nem sempre são tão genuínas como parecem. A expressão é muito usada no processo da conquista amorosa, quando se argumenta, por exemplo: “Ele tem muita lábia, diz que quer casar com ela, mas só quer levá-la para a cama!”...

LÁBIOS – Partes exteriores da boca, também conhecidas por “beiços”. Há outros lábios, situados noutro local do corpo da mulher, que são os grandes lábios e os pequenos lábios, existentes, respectivamente, no exterior e no interior da vagina. Mas estes, aqui referidos, são os que formam a boca, e que têm um papel importante nos jogos amorosos – tanto no beijo como nas diferentes modalidades do “sexo oral”, o fellatio ou o cunnilinctus. Um dado geralmente aceite é o de que um indivíduo com os lábios grossos revela tendências eróticas mais elevadas que uma pessoa com lábios finos – mas não há provas científicas de tal facto, e abundam os exemplos de gente que parece nem ter lábios, tão apertados eles são, e revela, inesperadamente, um temperamento vulcânico durante os actos amorosos em que intervém. 

LACRIMEJAR – Choramingar. Situação, menos evidente do que o choro, em que alguém deixa escapar uma ou outra lágrima, talvez mais para impressionar os circunstantes do que para mostrar verdadeiro desgosto ou pena. Artifício muito usado em velórios e funerais.

LÁGRIMAS – Gotas de humor lacrimal. Choro, pranto, que se manifesta, tanto em situações de desgosto como em ocasiões de alegria – pelo que é difícil de distinguir lágrimas verdadeiras das chamadas "lágrimas de crocodilo". Estas são definidas como lágrimas fingidas, usadas para tentar impressionar os circunstantes, mas sem corresponderem a algum sentimento real de dor ou de pena. Profissionalmente, este tipo de lágrimas é usado pelas “carpideiras”, pessoas que, em certas circunstâncias, são contratadas e pagas para chorarem abundantemente, com gritos lamentosos e braços no ar, dando um tom mais dramático ao acontecimento e transformando-o numa boa tragédia. Chora-se muito em funerais e missas de defuntos – mas, curiosamente, não se chora menos em casamentos, baptizados e outras cerimónias que, por definição, deviam ser alegres.
Existe uma variedade botânica de lágrima, a lágrima-de-sangue, que é uma planta também conhecida pelo nome de “casadinhos” – o que talvez seja uma subtil alusão à choraminguice que é uma constante em certos matrimónios...

LAMBAREIRO – Comilão, lambão, glutão – mas também se chama assim o indivíduo que dá à língua, ou seja, o tagarela mexeriqueiro. Não confundir com o que dá à língua noutras circunstâncias e em certos actos em que, por princípio, fica impedido de falar.

LAMBER – Uma das técnicas mais usadas nas práticas libidinosas. Usar a língua para saborear o corpo da pessoa amada, em todos os seus recantos, principalmente os mais íntimos, é um dos prazeres mais requintados entre os actos do amor físico. Há quem o prefira em substituição de outros prazeres mais convencionais, e quem faça do acto de lamber a única forma de satisfação plena. Tal opção é de respeitar, pois todos os prazeres são legítimos, excepto, naturalmente, os que prejudicam ou maltratam outras pessoas – o que não acontece, supõe-se, neste caso, a não ser que se verifique o fenómeno da chamada língua-de-pau, tão dura que chega a arranhar.

LAMBISGÓIA – Nome habitualmente aplicado, por uma esposa traída, à rival que lhe roubou o marido traidor. Há outros nomes piores, mas este é, sem dúvida, o mais tradicional, na língua Portuguesa. Designa-se assim uma mulher intrometida e mexeriqueira, cujo assassinato chega a ser seriamente encarado.

LAMBUZAR – Pode ter um sentido negativo, como sinónimo de “sujar” ou de “emporcalhar”, mas também pode ter um significado um pouco menos duro, quando se refere a lamber, já que este acto pode até contribuir para a limpeza de certos locais do corpo humano que, em certos casos, não são lavados com a frequência desejável. Então, nestes casos, lambuzá-los até pode considerar-se um “acto higiénico”.  

LAMECHA – Significa “piegas”, “pateta”, “baboso”, mas esta designação também se usa com o sentido de “namorado ridículo”, ou seja, aquele choramingas que nenhuma mulher leva a sério, nenhuma mulher aprecia – e nenhuma mulher quererá levar para a sua cama.

LÂMINA – Pequena folha de metal fino, cortante, que os homens usam, entre outras finalidades, para rapar os pêlos da cara ("lâmina de barbear") e as mulheres usam para rapar os pêlos das pernas – embora esta última utilização não seja recomendável, pois os pêlos voltam a nascer, e com maior força (é preferível usar cera depilatória, ou outro processo mais radical). Além disso, como as mulheres, frequentemente, usam as lâminas de barbear dos maridos sem lhes dizerem nada, estes ficam muito zangados quando pretendem barbear-se e descobrem que a lâmina já não corta nada, porque foi usada, por exemplo, para cortar pêlos púbicos...

LAMÚRIA - Choradeira mais ou menos lamentosa, destinada a comover as outras pessoas, sem que isso signifique obrigatoriamente a existência de fundamentos para o choro. Método muito usado para massacrar os circunstantes, até os convencer da veracidade das queixas apresentadas.

LÂNGUIDO – Estilo mórbido, dengoso, frouxo e flácido, mas que, curiosamente, atrai algumas pessoas, convencidas de que tal característica corresponde a tendências voluptuosas. Descobrem depois que corresponde a um estado de espírito e de corpo que mais propriamente se pode definir como “murcho”.

LANTEJOULAS – Palhetas metálicas brilhantes, para enfeitar trajos, por vezes modestos e desengraçados, mas que, com estes artifícios, ficam a parecer riquíssimos. Muito usadas no mundo do espectáculo, em que é preciso “encher o olho” do espectador, com um brilho falso e barato – mas também, simbolicamente, na vida social, em que as pessoas se enfeitam e se exibem com cintilações que depois se revelam enganosas.      

LAQUEAR – Tem dois sentidos: “aplicar laca”, coisa que muita gente faz aos cabelos, para manter os penteados fixos, sem madeixas desarrumadas; e “ligar” uma artéria cortada ou ferida. Neste último exemplo, pode citar-se a “laqueação das trompas”, operação delicada cuja finalidade é evitar que as mulheres possam ter filhos. É uma operação que vulgarmente se recomenda quando a família já é muito numerosa e começa a faltar verba para criar e alimentar tantas bocas... E é aí que surgem as “bocas” (agora em calão: “piadas”, “sugestões foleiras”) para que se use uma solução radical e assim se ponha travão ao excesso de filharada. 

LAR – Em tempos mais antigos, o lar era a parte da cozinha onde se acendia o fogo para cozinhar. Era a lareira. Desse elemento, do calor do fogo, junto ao qual se reunia a família, para as refeições e para o convívio, partiu-se para uma definição mais social: o lar é a casa, a residência onde a família habita. É, por isso, um elemento muito importante na vida familiar; daí as preocupações em possuir um lar seguro, confortável – e, de preferência, com uma renda, ou uma prestação de compra, o mais baixa possível... Um lar estável pressupõe, não apenas um bom ambiente físico, mas, também, um bom ambiente familiar, sem o qual se transforma num local odioso – o que pode ser provocado por causas de toda a ordem, entre as quais ressaltam, muitas vezes, os problemas sexuais: incompatibilidades na cama, ciúmes, adultério, etc., que o transformam facilmente num lar desfeito.   

LASCA – Durante séculos, esta palavra referia-se a um fragmento, um estilhaço de qualquer material: madeira, pedra, metal. No século XX, porém, passou a designar uma mulher excepcionalmente bonita e bem feita. A expressão “Que grande lasca!” entrou na gíria corrente e nunca mais de lá saiu...

LASCÍVIA – Sinónimo de luxúria, impudicícia, voluptuosidade, concupiscência, libidinagem, sensualidade. Esta palavra implica uma excitação sem medida, muito profunda e muito absorvente. Mas, no fundo, todas estas expressões definem praticamente o mesmo: esse impulso universal que leva todos os homens e mulheres deste mundo a praticarem sexo e a darem ao erotismo um papel essencial nas suas vidas.

LATA – Mais uma palavra com dois significados completamente diferentes. Por um lado, é uma folha de ferro estanhado, relativamente delgada; ou uma caixa feita desse material, onde se guardam coisas: a "lata do pão", a "lata das bolachas", a "lata do chá", etc. Por outro lado, e em gíria corrente, significa “descaramento”, “desplante”, como, por exemplo, na frase “Ela tem cá uma lata para nos tentar convencer que ainda é virgem!...”

LATAGÃO – Mocetão ou homem de grande estatura. Muitas mulheres ficam emocionadíssimas à vista de um homem grande. Mas, por vezes, ao tamanho dos músculos visíveis não corresponde o tamanho de partes invisíveis à primeira vista, pelo que um grande latagão pode revelar-se uma grande decepção. Alguns dicionários apontam-lhe como sinónimo o termo “durão”, mas deve ser exagero...

LATINO – Homem que descende dos antigos Romanos do Lácio, e que tem características próprias bem marcadas: moreno, corpo bem talhado, olhos e cabelos escuros, nariz aquilino, boca sensual. Muito apreciado pela generalidade das mulheres, sobretudo as nórdicas e saxónicas, pelo contraste com os homens dessas latitudes, mais louros e mais frios. Daí o êxito do chamado "macho latino", que se tornou uma figura quase mítica, que toda a turista, de espírito e corpo aberto, anseia encontrar, nas suas “férias quentes” de cada Verão.

LAVABO – Tecnicamente, um lavabo não é mais que um “lavatório”, isto é, um depósito de água com uma torneira, para lavagens parciais (para a lavagem total, existe a “banheira” ou o “duche”). Também se chama assim a um “toalhete” ao qual se limpam as mãos. Mas o significado da palavra extravasou destas aplicações mais comuns, e chama-se lavabo, correntemente, a uma “casa-de-banho”, onde, evidentemente, se fazem outras coisas, além de lavar simplesmente as mãos. Quando se pergunta, ao empregado do restaurante: “Onde fica o lavabo?” – toda a gente sabe que se poderia perguntar, mais pragmaticamente: “Onde posso fazer chichi?”...

LAVAR – Limpar com água (e, geralmente, com algo mais, que pode ser sabão, sabonete, detergente ou qualquer outra coisa do género, que ajude à limpeza). Uma lavagem pode ser geral, significando que se “toma banho”; ou parcial (lavar as mãos, lavar os pés, lavar as “partes pudendas” (v. bidé). Não é apenas a higiene que aconselha as pessoas a lavarem-se, antes e depois de uma sessão amorosa. Antes, porque é aconselhável e importante a eliminação prévia de suores, sujidades e cheiros indesejáveis, assim como são aconselháveis todos os cuidados com as partes que vão estar em contacto. Depois, porque o bem estar que isso proporciona é muito relaxante, além de ser saudável.

LEDA – Filha do rei Thestios, que participara na expedição dos Argonautas, casou com Tyndaro, rei de Esparta, que exibia no seu palácio uma estátua de Vénus com os pés amarrados, numa alusão à fidelidade das mulheres, que exigia ser bem resguardada. Isso não impediu Leda de ser seduzida por Júpiter, que lhe surgiu sob a forma de um belíssimo cisne de brancura imaculada, que voava nos céus, perseguido por uma águia, e que veio refugiar-se nos seus braços. Leda acolheu-o, encantada, e não se surpreendeu quando o cisne lhe falou, dizendo que queria conceber com ela dois filhos tão brilhantes que viriam a servir de guias aos marinheiros perdidos nos oceanos. Para surpresa geral, Leda pôs no mundo dois ovos e, de cada ovo, surgiu um par de gémeos: de um deles, Pollux e Helena; do outro, Castor e Climenestra. Os dois rapazes tornaram-se inseparáveis e os seus nomes são lembrados nas estrelas que os evocam: a constelação dos Gémeos. A lenda de Leda e o Cisne foi abordada em inúmeros quadros, de autores tão conhecidos como Leonardo da Vinci, Miguel Ângelo, Correggio, Veronese e muitos outros. Acredita-se que a história terá sido inventada pela bela Leda, para justificar o nascimento de Castor e Pollux, Helena e Climenestra, que seriam filhos de um misterioso amante. Mas também se levantaram outras versões, em memória de um tempo em que as pessoas não se coibiam de amar certos representantes, mais atraentes, do reino animal...  (v. Bestialidade). 

LEGAL – O que está dentro da lei. Tudo o que está coberto por regulamentos, normas, decretos, estatutos, que sejam impostos à sociedade e por ela aceites. Um acontecimento ou um facto pode, inclusivamente, não ter fundamento moral e, até, ferir sentimentos e ir contra hábitos e tradições – mas, se houver uma lei que o justifique, terá que ser aceite como legal. A frase latina “Dura lex, sed lex” (“A Lei é dura mas é Lei”) é bem expressiva desta forma de analisar e julgar os factos.

LEGÍTIMO – O que está fundado no direito e na justiça. Durante muito tempo, chamou-se filho legítimo àquele que tinha nascido como fruto de um casamento; por outro lado, o que tivesse nascido de uma união diferente do matrimónio era um filho ilegítimo. Aliás, a própria união entre pessoas só era considerada legítima se tivesse existido previamente esse casamento. Senão... eram amantes. E, no tempo em que estas distinções eram muito importantes na vida social, os amantes não eram bem recebidos nas casas e nas famílias chamadas “sérias” – a não ser, curiosamente, nas de extracto social mais elevado, onde essas coisas eram vistas com muita complacência e aceites com bastante desprendimento. Já nas famílias mais pobres, ter uma ligação ilegítima era considerado inaceitável e chocante, sendo um exemplo de como os “maus costumes” contribuíam para a dissolução dos valores morais da sociedade...
            No feminino (legítima), trata-se da parte de uma herança que a lei reserva para certos herdeiros e de que, por isso mesmo, não se pode dispor livremente. 

LEI – Preceito obrigatório. Norma de direito, ou de moral. As chamadas "leis escritas" são as que são produzidas pelo poder legislativo, sendo depois publicadas oficialmente, e cujo cumprimento é obrigatório, não podendo alegar-se o seu desconhecimento. Quem as não cumprir é castigado. No vastíssimo campo abarcado pelo Erotismo, pelo Sexo e por tudo o que lhes está adstrito, existe um número incontável de leis, muito variadas e específicas, desde as que regulamentam casamentos, divórcios, etc., às que proíbem certos actos sexuais, como é o caso, por exemplo, das relações com menores, passando pelas que interditam os bordéis, como acontece em certos países (ou os toleram e regulamentam, como acontece noutros). A sua quantidade e variedade são grandes.

LEITE – Líquido branco, produzido pelas fêmeas dos mamíferos, e que é fornecido através das mamas, que as crias chupam, para se alimentarem. Além das crias, há quem, já adulto, imite o que fazia na infância, recordando como se mamava nesses tempos – embora já não o faça com a antiga intenção de obter leite. Chama-se "irmão de leite" a alguém que foi amamentado com o leite da mesma ama (portanto, da mesma mama).

LEITO – O mesmo que cama, com uma designação ligeiramente mais nobre. Quando alguém diz que “vai recolher ao leito”, isso quer dizer, geralmente, que “vai dormir” – ao passo que, se diz que “vai para a cama”, sobretudo se vai acompanhado, isso pode significar que é muito capaz de ficar acordado, pelo menos durante algum tempo...

Sem comentários:

Enviar um comentário